Para os fiéis e beatos, o estouro daquele rojão canhão às 4:30 horas da manhã é o arauto anunciando o início da alvorada do divino.
Para os não fiéis, evangélicos, espíritas, ateus, bebes, crianças, idosos, enfermos, trabalhadores e os animais, o estúpido estouro daquele maldito rojão canhão às 4:30 horas da manhã é um incômodo absoluto, uma falta de respeito e, mais do que tudo, uma demonstração de autoritarismo, de presunção, de arrogância da igreja católica que nos remete à época das cruzadas.
Nos remete aos anos em que milhares de pessoas inocentes tiveram suas vidas ceifadas pela santa inquisição, das formas mais brutais e cruéis que se pode imaginar.
Nos remete aos anos em que soldados espanhóis, a serviço da coroa e da igreja, pilharam, saquearam e exterminaram os astecas.
Nos remete ao dia em que o estudante Pomponio Algério foi cozido vivo em um pote de óleo em plena praça pública, por determinação da santa igreja.
Nos remete aos anos de Rodrigo de Borja, o devasso e promíscuo Papa Alexandre VI.
Nos remete aos anos de Giovanni Pietro Carafa, o Papa Paulo IV, odiado pelos céus e no inferno.
Nos remete ao ano de 1.858 quando o menino Edgardo Mortara foi sequestrado pelo Papa Pio IX.
Nos remete à semana passada, quando o Papa Francisco, na maior saia justa, ou melhor, batina justa, mais uma vez teve de pedir desculpas para as famílias de vítimas abusadas sexualmente por padres.
Conforme estatísticas divulgada pelo próprio Papa, 2% (dois por cento) dos clérigos são pedófilos, ou seja, mais de 8.000 (oito mil) do sacerdócio.
"BUM" 4:30 HORAS DA MANHÃ
Esperávamos, sinceramente, que festeiros inteligentes, de boa formação, civilizados, abolissem esta prática estúpida.
E não há que se alegar que é uma tradição.
Estourar um rojão canhão às 4:30 horas da manhã é uma importunação, e pior, sair caminhando e estourando malditos rojões é desconhecer a essência e o significado da procissão.
Peregrinar pelas ruas na procissão da alvorada é contemplar e saudar a beleza do clarear do dia com orações silenciosas e cânticos suaves e delicados, é uma missa ao ar livre com a benção da santidade que está sendo homenageada, não infernizar a cidade com estouros seguidos de malditos rojões como se estivessem comemorando a vitória de um time após o término de uma partida de futebol.
Já isto nos remete ao dia em que a igreja matriz ficou impedida daquela prática horrorosa de anunciar óbitos em seus auto-falantes, assim como foi obrigada a comprar um decibelímetro e entregá-lo à prefeitura local.
Para quem não sabe, decibelímetro, numa explicação bem grosseira, é um aparelho com o qual se mede o tamanho do barulho.
O Brasil é, constitucionalmente, um país laico, dessa forma, não pode uma determinada religião impor os seus preceitos.
A igreja estoura seus estúpidos rojões e nós protestamos, afinal, a inquisição não existe mais.